A programação do Seminário Missão Infância Fortaleza, iniciada na manhã desta terça-feira (27/08), seguiu durante toda a tarde no Centro de Eventos do Ceará. As atividades do turno foram retomadas a partir da realização de uma mesa redonda composta por especialistas nacional e internacionalmente reconhecidos no âmbito da primeira infância. Diante de uma plateia composta por profissionais, autoridades e gestores das mais diversas áreas, foram compartilhadas experiências relacionadas ao fortalecimento do desenvolvimento infantil integral.
A professora da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Núcleo Ciência pela Infância, Anna Maria Chiesa, destacou, em sua explanação, a importância do trabalho intersetorial no fortalecimento da primeira infância. “Uma experiência como esta nos faz trocar aprendizados. Os trabalhos desenvolvidos em Fortaleza acontecem em parceria entre os setores públicos, privados, segmentos da sociedade civil e científica. São referências positivas para nós. Vir aqui e ver as imagens, os depoimentos, o alcance do que foi feito e do que está sendo estruturado é uma alegria muito grande”, introduziu a palestrante, que acumula experiência como consultora técnica na Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
Na oportunidade, Anna Maria apontou, ainda, a importância de se trabalhar, no tempo adequado, o estímulo sensorial, além do desenvolvimento da linguagem e das funções executivas das crianças. “A cada segundo, o cérebro do bebê pode estabelecer um milhão de novas conexões e sinapses. Desde o último trimestre de gravidez, essas funções já estão ativas no feto e continuam se desenvolvendo até os quatro anos, quando se atinge o ápice da formação dessas conexões cerebrais, que serão responsáveis por uma boa estrutura e por um bom desenvolvimento, sendo úteis por toda a vida. Por isso, há a importância de se pensar e de se ampliar políticas públicas eficientes no âmbito quantitativo e qualitativo. Isso envolve educação, saúde, jurídico, cultura e desenvolvimento social”, esclareceu.
Ao dialogar sobre intervenções e impactos para o desenvolvimento da primeira infância, a professora do departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Maria Beatriz Martins Linhares, apresentou estudos que defendem o fortalecimento da parentalidade, a prevenção de práticas abusivas e violentas e a relevância da educação de crianças em ambientes seguros. “Dentre práticas parentais positivas, estão a comunicação, a disciplina positiva, a regulação emocional e comportamental e o monitoramento por mídia eletrônica. Além do Brasil, há diversos países que unem esforços em prol dessa causa, a exemplo dos Estados Unidos, Peru, Colômbia, Japão, Bósnia, Guatemala, Taiwan, Turquia e Portugal”, apontou.
Maria Beatriz acrescentou que o sucesso das iniciativas voltadas ao desenvolvimento infantil, a exemplo do que acontece em Fortaleza, devem passar por diversos processos, incluindo o estímulo à educação, a redução de desigualdades, o esclarecimento no tocante à gravidez na adolescência, o combate à evasão escolar e o desemprego. “De forma geral, é preciso implementar, em larga escala, programas de avaliação com efetividade, hierarquizar prioridades, planejar, estabelecer metas e etapas, realizar, avaliar, revisar e avançar”, elencou.
Abordando os riscos do sofrimento psíquico na primeiríssima infância, Lia Batista Valseth compartilhou a experiência adquirida ao longo do mestrado em Psicopatologia e Psicanálise da Criança e do Adolescente pela Universidade Paris XIII. A especialista defendeu a prevenção e o diagnóstico precoce de possíveis sofrimentos precoces em bebês de zero a 12 meses. “Tem sido constatado, por exemplo, um aumento em casos de autismo. Nessas situações, o ideal é intervir o mais cedo possível. Quanto mais cedo a detecção e a intervenção, maiores as possibilidades de minimizar os sintomas”, discursou, acrescentando a importância da atenção aos sinais dados pelo bebê, a exemplo do olhar e da linguagem verbal e não-verbal. “É preciso que haja uma conexão com as necessidades do bebê. Todo sofrimento psíquico deixa marcas. É fundamental destacar que a família, os abrigos e as creches têm poder preventivo. Por isso, é importante esse esclarecimento”, frisou.
A moderação do debate foi realizada pelo professor da Universidade Federal do Ceará e coordenador técnico-científico do Instituto de Primeira Infância (Iprede), Álvaro Jorge Madeiro Leite. Na oportunidade, foram realizadas perguntas e ofertadas contribuições intelectuais por parte da plateia presente.
A primeira-dama de Fortaleza, Carol Bezerra, considera que as iniciativas em prol da primeira infância garantem às crianças um futuro promissor. Em Fortaleza, o programa Cresça com Seu Filho/Criança Feliz acompanha, desde 2014, o desenvolvimento das crianças de zero a três anos em risco de vulnerabilidade social e econômica na Capital, oferecendo mais possibilidades de desenvolvimento. De sua implantação até 2018, o programa já registrou 106.301 visitas domiciliares, com 8.424 crianças cadastradas e a capacitação de 797 agentes comunitários e 223 enfermeiros. Atualmente, o Programa atende 2.500 crianças. A meta é acompanhar 7 mil até 2020.
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Atividade Cultural
Ainda nesta tarde, foi prestada uma homenagem aos compositores cearenses Belchior, Fagner e Amelinha por parte da miniorquestra do Instituto de Assistência e Proteção Social (IAPS).