A gravidez na adolescência, além das questões sociais, psicológicas e afetivas, envolve riscos clínicos, podendo ser prejudiciais à mãe e ao bebê, de acordo com a médica obstetra da Rede Municipal da Saúde, Rosiane Alves. A especialista cita que a gestação nesta fase da vida, entre os 10 e 19 anos, pode ser considerada uma questão de saúde pública. Por isso, em fevereiro, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ressalta o debate sobre o assunto, que envolve uma atuação intersetorial.
“A gestante adolescente corre risco maior de anemia hipertensão, eclampsia, diabetes gestacional e distorcia, principalmente abaixo de 15 anos, pois a formação da pelve não está completa. Além disso, tem chances de parto prematuro e todas as patologias que envolvem a prematuridade podem ser prejudiciais ao bebê”, afirma a médica.
A especialista reforça que a oferta de métodos contraceptivos é primordial para evitar a reincidência da gestação na adolescência. “A reincidência da gravidez ainda na adolescência é bastante prejudicial para a mãe e pode trazer danos à saúde, por isso é tão importante a oferta dos métodos contraceptivos, em especial aqueles de longa duração”, finaliza.
Oferta de métodos contraceptivos na Rede Municipal de Saúde
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferta de maneira gratuita nove métodos contraceptivos que ajudam no planejamento familiar. São eles: anticoncepcional injetável mensal, anticoncepcional injetável trimestral, minipílula, pílula combinada, pílula anticoncepcional de emergência (ou pílula do dia seguinte), Dispositivo Intrauterino (DIU), preservativo feminino e preservativo masculino.
“A distribuição de métodos contraceptivos como pílulas e preservativos acontece nos 116 postos de saúde de Fortaleza. Para as mulheres que optem por métodos de longa duração, como o DIU, temos unidades de saúde que fazem o procedimento, assim como é ofertado à inserção imediata para as mulheres no pós-parto ou pós-abortamento”, afirma Léa Dias, assessora técnica da saúde da mulher.
Assistência às adolescente durante a gestação
A partir dos primeiros indicativos como o atraso menstrual, as adolescentes devem ir a um dos 116 postos de saúde para diagnosticar a gestação. O objetivo é logo começar o pré-natal, ainda no primeiro mês ou primeiro trimestre da gravidez.
Durante o atendimento de pré-natal na rede pública, a paciente é vinculada ao local do parto, realiza testes rápidos e consulta odontológica, dentre outras atividades como grupos de gestantes. “As gestantes que estão na faixa etária da adolescência terão acesso ao seu pré-natal na Rede Municipal da Saúde com consultas de médicos e enfermeiros, além de exames laboratoriais. Dispomos, ainda, de serviços especializados caso essa adolescente seja estratificada com gravidez de alto risco”, enfatiza Léa Dias.
De acordo com levantamento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), entre os anos de 2020 e 2022, foram 93.061 nascidos vivos na Capital, onde 10.590 foram de mães entre 10 e 19 anos, destss, 10.185 fizeram seu parto na Rede Municipal de Saúde.
Intersetorialidade na prevenção a gravidez na adolescência
O município de Fortaleza, por meio das secretarias da Saúde e Educação, integra o Programa Viva seu Tempo, em que atua de forma multidisciplinar as questões relacionadas à prevenção a gestação na adolescência, com abordagens sobre métodos contraceptivos, planejamento familiar para evitar a evasão escolar e o apoio às gestantes durante o período letivo.
Além disso, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) dispõe do Programa Gente Adolescente, que junto à Secretaria Municipal da Educação (SME) desenvolve atividades educativas para fomentar o debate sobre a visão e as expectativas de futuro para os adolescentes. A iniciativa atua nas unidades de saúde, capacitando os profissionais para o cuidado com o público desta faixa etária.
As ações municipais visando à prevenção a gravidez na adolescência apresentaram resultados positivos ao longo dos anos. Em 2020, foram 3.909 nascidos vivos de mães adolescentes na Capital; em 2022, 3.106, uma redução de aproximadamente 20%.
Comunicação como ferramenta de prevenção
A comunicação é um dos principais métodos para auxiliar os adolescentes na prevenção a gravidez indesejada, de acordo com o psicólogo e sexólogo da Rede Municipal de Saúde, Luiz Henrique Sampaio. Ele explica que a falta de informação favorece a gestação precoce.
“Uma comunicação não violenta, orientativa e não acusatória pode auxiliar os adolescentes a evitarem a primeira ou a reincidência de uma gravidez. Mediante um quadro de gestação nesta faixa etária, o indivíduo vai se sentir fragilizado, muitas vezes não está preparado fisicamente ou psicologicamente para arcar com essas consequências. A falta de informação aparece como o principal fator que favorece o fenômeno gravidez na adolescência”, explica.
O especialista reforça a importância da linguagem e da abordagem utilizada para falar sobre sexualidade, respeitando cada faixa etária. “É importante que saibamos que sexo e sexualidade são assuntos distintos. As pessoas imaginam, por falta de informação, que irão ensinar sexo para as crianças e não é assim. A proposta é falar sobre sexualidade, respeitando cada fase do desenvolvimento, incluindo o puberal”, reforça.
Luiz detalha que a abordagem sobre o assunto deve ser gradativa. “Nos anos iniciais é indicado falar sobre consciência corporal e proteção, nomeando as partes do corpo e diferenciando o toque de higienização do abusivo. O diálogo sobre sexo ocorrerá somente na adolescência, abordando métodos contraceptivos, respeito e as consequências psicológicas de sexo desprotegido. Nesta fase, o diálogo precisa ocorrer de forma mais aprofundada”, enfatiza.
Dificuldades durante a gestação na adolescência
Juniele dos Santos, de 32 anos, engravidou aos 17. Ela relembra as dificuldades que enfrentou durante sua gestação e puerpério. “Quando soube que estava grávida, foi muito difícil, para mim e meus pais. Depois que ela nasceu, foram muitas dificuldades para criar, além das mudanças no corpo. Os sonhos que tinha via que seriam difíceis de realizá-los. Fiz um curso técnico, tentei trabalhar na área, mas não consegui, pois não deu para conciliar o horário do expediente e cuidar da minha filha”, recorda, emocionada.
Devido às dificuldades que enfrentou com a gravidez na adolescência, Juniele orienta sua filha, hoje, com 14 anos, sobre proteção. “Converso muito com ela sobre meu passado que não foi fácil. Estou instruindo ela para a vida adulta, falando de sexo e sexualidade, porque o que eu tive foi totalmente diferente. A aproximação que temos uma com a outra me dá esperanças que ela não vai passar por tudo que passei”, afirma.