O Concurso da Guarda Municipal de Fortaleza, que prepara 1.000 agentes para reforçarem os quadros da Secretaria da Segurança Cidadã (Sesec), carrega também histórias de superação de quem abandonou família noutro estado ou precisou enfrentar problemas familiares para seguir o sonho. A primeira reportagem sobre os Novos Guardas conta a história da aluna Irlana Karoline, da primeira turma do concurso.

Quando se inscreveu pela primeira vez para concorrer a uma vaga na Guarda Municipal de Fortaleza, Irlana não sabia que demoraria dez anos para realizar o sonho de fazer parte da corporação. Ela precisou se libertar de um relacionamento abusivo e contou com incentivo do pai para tentar novamente.

"Na época, eu queria muito uma mudança de vida", conta Irlana sobre a tentativa anterior. Pesou muito na conta da renúncia o machismo que não reconhece o direito e a autonomia das mulheres para estudar e crescer profissionalmente. O relacionamento conflituoso, uma filha pequena e uma árdua rotina de trabalho faziam da transformação uma necessidade, mas também um grande desafio, que naquele tempo precisou ser adiado.

O retorno aos estudos só ocorreu nos anos seguintes, impulsionado pela reação inconformada do pai. "Um dia meu pai, que era o meu grande incentivador, disse: ó, tá errado, eu não te dei asas pra isso", relembra Irlana. Ele a fez prometer que se dedicaria aos estudos, enquanto também prometia o amparo necessário para não desistir: "não vai faltar nada pra você".

O amor e o acolhimento paterno também foram cruciais para que ela rompesse o ciclo de abusos do relacionamento e se fortalecesse para continuar estudando. Quando tudo ficou difícil demais, ele lembrou que o lugar da filha e da neta na própria casa continuava a existir, e que, se ela quisesse, sempre poderia retornar. O tempo, e tudo o que Irlana construiu ao longo dele, foi alimentando o sonho de entrar para a Guarda Municipal. "Foi algo que foi me enchendo os olhos", conta. A rede de apoio foi crescendo e, em paralelo, ela foi ganhando conhecimento e adquirindo experiência em concursos.

Seleção

Quando um novo processo seletivo finalmente aconteceu, na atual gestão, ela estava no momento certo. Irlana lembra que saiu da prova com o sentimento de vitória, pensando: "deu certo". A certeza se confirmou com a divulgação do resultado e foi reafirmada ao longo da formação.

Concluindo a formação e tendo passado pela avaliação final, a nova agente reconhece a importância da rede de apoio para o próprio sucesso. "No curso de formação, foram dois meses em que a gente teve que se dedicar de forma total. Eu saía de casa cinco horas da manhã e chegava sete horas da noite. Eu sabia que esse suporte estava aqui, para me dar essa ajuda, e talvez antes eu não tivesse condições pra passar todo esse tempo sem uma rede de apoio tão grande", considera Irlana.

O percurso para entrar na GMF pode até ter sido longo, mas foi também um começo vivido com muita alegria. No exercício da função, Irlana deseja que as experiências pessoais de superação possam ajudá-la a inspirar e fortalecer outras mulheres. "Essa sensação de ser útil e de saber que eu vou poder ajudar tantas outras mulheres é engrandecedor demais", reforça a nova guarda, que também vislumbra a possibilidade de ser locada no Grupamento Especializado Maria da Penha (GEMP), grupo da GMF voltado à prevenção e ao enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres.

Concurso da Guarda

A Prefeitura de Fortaleza ofertou 1.000 vagas para o Concurso da Guarda Municipal, com 750 para ampla concorrência, 50 para pessoas com deficiência e 200 para pessoas negras e pardas. Atualmente, a primeira turma, com 221 candidatos, foi nomeada nesta terça-feira (14), em ato realizado na sede da Secretaria Municipal da Segurança Cidadã (Sesec). A segunda turma, com 280 alunos, está em formação e participou, neste mês, de estágio supervisionado em cinco bairros de Fortaleza.