“Na favela, desde cedo, você se depara com a decisão de ter de trabalhar ou estudar. E, como muitos percebem, eu vi que as notas azuis do boletim não têm o mesmo resultado prático das notas de dinheiro”, é assim que Preto Zezé se lembra da sua realidade na infância.
Nascido em 1976 e filho do pintor Chico Macumbeiro e da doméstica dona Fátima, Francisco José Pereira de Lima cresceu na comunidade das Quadras, um enclave pobre no coração de um dos bairros mais ricos de Fortaleza, a Aldeota. “Ali nós conhecemos a desigualdade muito cedo. Do lado das Quadras tem uma escola que cobre o território inteiro da comunidade e, do outro lado do asfalto, tem apartamentos que são maiores que casas onde vivem nove ou dez pessoas nas Quadras”.
Já nos anos 1990, Zezé se encantou com as culturas do hip hop e do graffiti. “Foi nessa virada dos anos 90 para 2000 que também começou a ideia da Cufa (Central Única das Favelas), para a gente organizar de maneira mais sistemática a formação de lideranças nas favelas, percebendo esses locais como ambientes de potência, não somente de carência e problemas. É ali que nasce o Preto Zezé”.
Desde 2015, Zezé é presidente da Cufa, instituição fundada em 1998 com atuação em mais de 20 países. A Cufa é reconhecida internacionalmente por projetos e ações nas áreas de cultura, esporte e lazer. Entre as ações de destaque está a Taça das Favelas, um dos maiores campeonatos de futebol do mundo. O evento mobiliza milhares de jovens no Brasil inteiro, gerando inclusão e visibilidade. Também há o programa Mães das Favelas, que já beneficiou mais de três milhões de famílias com alimentos, chips de internet e botijões de gás.
“A Cufa está formando uma elite, que vem das favelas, para discutir o país. Não estamos falando de inclusão por meio de cesta básica ou projetos sociais, mas de gente que está organizando um outro tipo de Brasil, pensando soluções e produzindo novos olhares. Essa construção de pontes é essencial num país tão apartado e desigual”, afirma Zezé.
“Fico muito honrado com a medalha. Isso demonstra que o poder público, a Prefeitura, também está mudando seu entendimento, olhando como um todo a diversidade das potências e competências que existem na nossa cidade”, concluiu. Zezé também é fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista
Sobre a Medalha Iracema
A celebração de entrega da Medalha Iracema faz parte do aniversário de 297 anos de Fortaleza. A medalha é a maior comenda do Poder Executivo Municipal, e homenageia personalidades que contribuíram em sua área de atuação profissional para o desenvolvimento da riqueza cultural e histórica da Capital.
Esta é a sexta vez que a Prefeitura concede a outorga. Este ano, a Medalha Iracema celebra a diversidade e pluralidade do povo fortalezense, homenageando personalidades de diferentes etnias, orientações sexuais e atividades sociais. Serão agraciados o senador Tasso Jereissati, a professora Luma Andrade, o presidente da Central Única das Favelas (Cufa) Preto Zezé, o artista Descartes Gadelha e a ex-prefeita de Fortaleza Maria Luiza Fontenele.