Em 2023, o Ciclo Carnavalesco promovido pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria da Municipal da Cultura (Secultfor), foi marcado pelo reencontro dos foliões após dois anos sem festejos. Desde o dia 20 de janeiro, com o lançamento do pré-carnaval, até esta terça-feira (21/02), a cidade foi novamente contagiada pela alegria dos batuques, fantasias e purpurinas. No Largo da Mocinha, tradicional reduto do samba de Fortaleza, não foi diferente e a festa de encerramento foi embalada por Cris Malagueta e pelo Bloco Num Ispaia Sinão Inche.
Para a foliã Rachel Madna, o Ciclo Carnavalesco 2023 era necessário para celebrar a vida e relembrou da dona Mocinha, a antiga proprietária do bar que nomeia o polo carnavalesco de Fortaleza. “É uma alegria sem tamanho. Foi um carnaval muito tranquilo, ainda mais passando aqui na Mocinha, onde foi um espaço família e seguro, com muitas pessoas trazendo até crianças e pessoas idosas nestes quatro dias de festa. O carnaval é uma festa muito democrática e, depois do que passamos, é uma satisfação ver essas pessoas aqui, com vida”.
O cabeleireiro Fábio Garrido, natural do Rio de Janeiro, não via a hora de voltar a dançar nas ruas de Fortaleza. Este ano, ele decidiu sair abraçado com a bandeira LGBTQIA+, e disse: “Isso daqui é pra mostrar que somos LGBTs, botar a cara no mundo, mostrar que somos dignos e que temos responsabilidade”. “Foram dois anos sem carnaval nas ruas, sem samba, mas em casa sempre fiz festa. E, como eu sou do Rio, quando não estou lá, venho aqui para a Mocinha, todo ano. É meu bate-cartão”, completou.
David Linhares também improvisou na fantasia, saiu nas ruas com asas de borboleta e barba coberta de glitter nas cores do arco-íris. Para ele, esta foi a festa da sua vida. “Nem teve ideia, foi tudo improvisado. Peguei tudo que tinha na gaveta e saí, carnaval é isso também, se virar. E agora a gente tá podendo, depois de tanto tempo com o pé na jaca. O brasileiro precisa de carnaval, é para alimentar a alma e, o deste ano, foi o melhor da vida”.
Já o folião Fernando Marques decidiu pesquisar mais e dançou e pulou no Largo da Mocinha vestido de, nas ruas palavras, romano estilizado. “Eu fui pesquisando tudo. Uma parte é toalha, outra é cortinha e já o capacete e armadura eu comprei”. O folião também celebrou o retorno da folia. “Viva a ciência, viva o respeito e viva a liberdade e diversidade. É por coisas assim que hoje podemos estar todos aqui”.
No Mercado dos Pinhões, outro grande ponto de encontro dos foliões de Fortaleza, apresentaram-se Renato Black, Yane Caracas, Banda Brasilis e Superbanda. E Isaudique Garcia, de 70 anos, foi curtir a folia. “Eu não posso perder isso aqui, quero nem ficar presa dentro de casa. E tô vindo agora com 70, vou vir com 80 e com 90, até quando eu não puder mais”.
Elmo Costa levou a família inteira para o Mercado dos Pinhões: esposa, sogra e afilhada. Para ele, a principal marca que o carnaval de Fortaleza deixou foi a organização e a segurança. “Eu não saio muito para carnaval, mas cheguei aqui e estava tudo muito seguro e elas queriam muito vir. Eu adorei tudo”.
Por outro lado, a ambulante Eleni Medeiros tentava se dividir entre a dança e a venda de drinks. Para ela, este é o maior desafio. “Eu tô curtindo tudo, o som e as vendas. Sempre trabalhei com festas e estava sentindo muita falta do carnaval. O que mais sai aqui é caipirinha, já perdi até a conta. E o movimento foi muito bom, desde o pré-carnaval só fez aumentar”.
As amigas Amanda Nunes e Carla Rocha também saíram para curtir o carnaval no Mercado dos Pinhões. Como contou Carla, não dava mais pra ficar em casa. “A gente mora em condomínio fechado, então já estava cansativo, mesmo que hoje seja o último dia, para nós é o primeiro. Chegando aqui, eu fiquei impressionada, tá tudo organizado e, quando a gente vê isso, dá mais vontade de sair na rua e se divertir. Isso é muito importante, ainda mais depois dessa clausura de dois anos”.
Além do Mercado dos Pinhões e do Largo da Mocinha, a festa também rolou solta nos outros polos carnavalescos nesta terça-feira, com destaque aos tradicionais cortejos de afoxés e maracatus na avenida Domingos Olímpio. E o Aterrinho da Praia de Iracema lotou ao som do samba do Seu Jorge e do forró da banda Limão com Mel.
Este ano, o Ciclo Carnavalesco de Fortaleza homenageou o movimento Massafeira Livre e o músico e compositor Tarcísio Sardinha. O movimento cultural Massafera iniciado em 1979, congregando mais de 400 poetas, músicos e artistas plásticos. O ponto máximo foram as feiras culturais realizadas no Theatro José de Alencar, que reuniram artistas como Belchior, Patativa do Assaré, Belchior, Fausto Nilo e Fagner. O movimento também revelou para o Brasil nomes como Ednardo, Amelinha e o Pessoas do Ceará.
O músico Tarcísio Sardinha nos deixou em abril do ano passado e era uma figurinha carimbada da boêmia alencarina com seus choros e sambas. Professor de violão, arranjador e compositor, além de ter se apresentado ao lado de grandes nomes como Belchior e Dominguinhos, Tarcísio teve grande importância na formação cultural e musical de incontáveis cearenses.