Uma cidade mais humana, participativa, inovadora, inclusiva, sustentável e que ofereça mais qualidade de vida por meio do... Design? Sim, é possível, se o espaço urbano for visto a partir de suas principais funções, como ocupação, mobilidade e uso. É o que defende Aulio Zambenedetti, especialista em Design e assessor de Políticas Culturais na Prefeitura de Curitiba, um dos palestrantes convidados do 4º Seminário Internacional de Políticas Públicas Inovadoras para Cidades, que acontece de 4 a 6 de março, no Centro de Eventos do Ceará.
Ao público de Fortaleza, ele apresentará os mais recentes movimentos da capital paranaense nas áreas criativas e de inovação, no painel Rede de Cidades Criativas, na quinta-feira (05/03), às 9h, com a temática "Cidade Criativa do Design". Confira a seguir na entrevista completa.
O Design Urbano vai além de uma questão artística e estética. Qual a principal função desse tipo de intervenção em uma grande cidade?
Aulio Zambenedetti: No cerne da transformação de uma cidade está o conceito de que o ser humano é a medida de todas as coisas, e a cidade deve ser pensada como um lugar de encontro e convivência dos cidadãos. O Design, por ser interdisciplinar e transversal, é a ferramenta de maior versatilidade para obtenção de bons resultados, sejam pontuais ou globais. Um exemplo é a criação, na década de 1970, do conceito de redução da criminalidade por meio do desenho urbano e arquitetura adotado por forças policiais e comunidades em vários países.
Em que aspectos o design urbano pode favorecer o crescimento de uma cidade em setores como desenvolvimento social, educação, saúde e meio ambiente?
AZ: O Design Urbano consegue ver a cidade nas suas principais funções: ocupação, mobilidade e uso. Sua aplicação favorece à medida que consegue dar retorno satisfatório à população direcionando, de maneira inteligente e justa, os recursos disponíveis em direção a uma cidade mais humana, participativa, inovadora, inclusiva, funcional, sustentável e que ofereça qualidade de vida para a população.
No Brasil de forma geral, quais desafios você considera mais urgentes que podem ser superados com as aplicações em Design Urbano?
AZ: No Brasil, assim como em qualquer lugar do mundo, o desafio é o mesmo: atender e ordenar de maneira segura e sustentável uma população que já passa de 50% vivendo em cidades. Monitorar tendências e transformações ambientais, demográficas, econômicas e tecnológicas é fundamental para o maior desafio que é uma rápida e assertiva resposta às demandas e necessidades da população.
Como você acredita que as experiências de Curitiba enquanto Smart city podem contribuir para a implantação de novas ideias em Fortaleza?
AZ: Curitiba é a primeira cidade do Brasil a entrar na rede e, no mesmo ano, Florianópolis. A expertise de Curitiba em Design Urbano já é consagrada em todo o mundo. Estamos, desde a designação em 2014, implantando outras ações nas diversas áreas que envolvem o Design e a Economia Criativa, atualmente mais fortemente voltados para inovação. Fazer parte da mesma rede e, principalmente, na mesma categoria, permite uma conversa mais próxima e mais profunda para troca de experiências.
A Prefeitura de Fortaleza tem adotado a estratégia de realizar concursos de ideias e consultas públicas para propor mudanças urbanísticas e artísticas em vias, comunidades e equipamentos da Capital. Como você avalia a participação da sociedade na implementação dessas intervenções em parceria com o poder público?
AZ: São diversas as leis que obrigam o poder público a ouvir a população, o mais importante é o que se faz com estas consultas e informações. Por outro lado, a sociedade precisa participar mais destas oportunidades de manifestações presenciais. E inserir a sociedade na implementação das ações selecionadas é um dos passos efetivos para o sentimento de pertencimento.
De que forma as transformações urbanas podem contribuir para a sensação de pertencimento dos cidadãos?
AZ: As transformações urbanas podem trazer este sentimento se forem feitas cada vez mais com escala humana. Serviços públicos de qualidade à distância de uma caminhada, pensar o cidadão como usuário e não só como cliente. E aliado a isto: identidade local, acessibilidade, estética, manutenção e conservação.
Em 2019, Fortaleza foi eleita pela Unesco uma das Cidades Criativas na categoria Design. Como funciona, na prática, essa Rede para o desenvolvimento sustentável local?
AZ: Como as cidades candidatas são avaliadas pelos mesmos parâmetros pela Unesco, elas acabam tendo muito em comum, principalmente dentro de uma mesma linguagem, no caso de Fortaleza e Curitiba, junto com Brasília, em Design, dando assim a oportunidade da troca de informações e experiências em áreas específicas.
Quais os potenciais nessa área você enxerga na capital cearense?
AZ: Ser a 5ª maior cidade do Brasil traz muitos desafios, mas também muitas oportunidades para Fortaleza. Com sua economia baseada em comércio e serviços, principalmente com arte e cultura, torna-se de suma importância para Fortaleza voltar sua atenção para a Economia Criativa. E, por sua transversalidade, o Design tem muito a contribuir em todas as áreas, principalmente com a ferramenta “Design Centrado no Usuário”, seja para o morador como para o turista.
O que o público de Fortaleza pode esperar sobre sua participação no 4º Seminário Internacional de Políticas Públicas Inovadoras para Cidades, quando irá integrar o painel sobre Rede de Cidades Criativas?
AZ: Mostrarei os mais recentes movimentos de Curitiba nas áreas criativas e de inovação, assim como a história de como chegamos até aqui com a possibilidade de contato pessoal e de responder perguntas pontuais dos participantes.
Perfil do entrevistado
Assessor de Políticas Culturais na Prefeitura Municipal de Curitiba, Aulio Zambenedetti trabalha com Economia Criativa para a formação do Plano Municipal de Cultura da capital paranaense. Servidor público na Fundação Cultural de Curitiba, é graduado em Comunicação Visual pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atuou no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e na Agência Curitiba de Desenvolvimento. É integrante da equipe da candidatura de Curitiba à Cidade Criativa de Design da Unesco e membro nomeado do Comitê de Gestão do Selo Unesco de Cidade Criativa de Design de Curitiba. Participou de projetos como o Centro Municipal de Design e do desenvolvimento do Curitiba+Design, organizado pelo IPPUC para a Prefeitura Municipal. É também sócio-fundador da ProDesign-PR, Associação das Empresas e Profissionais de Design do Paraná, do qual foi presidente na gestão 2016-2017.
Serviço:
Painel Rede de Cidades Criativas - "Cidade Criativa do Design"
Data: 05/03 (quinta-feira)
Horário: 9h
4º Seminário Internacional de Políticas Públicas Inovadoras para Cidades
Data: 4 a 6 de março
Local: Centro de Eventos do Ceará
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